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Gaita de Fole de Ifanes,
Miranda do Douro - um dos instrumentos patentes na exposição.
A 8 de Janeiro de 2004, data do nascimento do etnomusicólogo, que cumpria 75 anos se fosse vivo, Cascais deu início a uma homenagem com a abertura da exposição
"Michel Giacometti, caminho para um museu", em reconhecimento do seu valioso trabalho de recolha, estudo e divulgação da música tradicional portuguesa. Através desta exposição, que foi construída a partir do acervo existente no Museu da Música Portuguesa, pretende-se dar a conhecer a vida e obra de Michel Giacometti e, também, o trabalho e o programa do Museu.
A primeira parte da exposição conta-nos a história e dá-nos a conhecer o plano de trabalho, o contexto e o percurso da sua investigação. Na segunda parte são apresentadas a colecção de instrumentos e o seu legado documental, como os discos da Antologia da Música Regional Portuguesa, os filmes Povo que Canta e toda a documentação levantada nas suas missões pelo país. A exposição termina com os “sons escolhidos”, partindo da selecção de quatro instrumentos musicais, que são tocados por quatro músicos convidados.
A diversidade de suportes da documentação gerada pela sua investigação (gravações, fichas, filmes, fotografias) levou o projecto expositivo, da autoria da arquitecta Luísa Marques e Alberto Lopes, a tirar partido das novas tecnologias de comunicação, usando os meios multimedia.
Será, pois, além de uma exposição para visitar, um espaço para estar, para ouvir e para ver, um espaço para explorar e percorrer os caminhos de Giacometti na descoberta da cultura tradicional.
Para marcação de visitas guiadas e programas didácticos deve contactar-se o Centro Cultural de Cascais.
Sinopse
Michel Giacometti (1929-1990), etnógrafo nascido na Córsega, ficará indubitavelmente ligado à história e cultura do nosso país, pelo grande trabalho de recolha, estudo e divulgação da música tradicional portuguesa. Para este investigador o imperativo da preservação era o passo para a sua avaliação e integração na cultura nacional. Podemos dizer que Giacometti conseguiu, no limite, salvaguardar estes documentos vivos, traços profundos e ancestrais da cultura e do património musical português.
O seu encontro com Portugal deu-se nos finais da década de 50, deparando-se então com um país essencialmente rural e tradicional, onde já eram visíveis os efeitos do êxodo das populações para as cidades, a juntar aos sucessivos movimentos de emigração. A consequência dessas alterações na permanência de uma cultura de tradição oral, essencialmente ligada à vida do homem, era devastadora. A recolha urgente e a fixação por meios mecânicos, já ensaiada por alguns investigadores, da música tradicional portuguesa impunha-se e, na opinião do compositor Lopes-Graça, quem se viesse a lançar num projecto bem organizado, assente em métodos criteriosos de recolha e estudo a nível de todo o país, empreenderia um trabalho de grande alcance nacional.
Em 1960 Michel Giacometti fundou os Arquivos Sonoros Portugueses, um plano de acção que tinha por objectivo viabilizar o trabalho sistemático de recolha, estudo e divulgação da música tradicional portuguesa, que cobrisse a totalidade do país. Pretendia ele que os Arquivos viessem a ser um autêntico museu, onde se reuniriam os mais diversos documentos sonoros, as músicas, as vozes e os sons do nosso tempo e que seriam postos à disposição dos estudiosos. Numa entrevista, Giacometti referia que, em França, se tinha desenvolvido um plano de investigação e recolha etnográfica, a nível nacional, com o apoio de centros de etnologia criados em todas as universidades e que funcionariam como museus-laboratório, onde se reuniria toda a documentação recolhida e posteriormente seria estudada e divulgada. Segundo ele era o que deveria ser feito em Portugal. Esta sua reflexão dá-nos de certa forma a medida, o propósito e o alcance do seu projecto. A recolha, o estudo e a divulgação eram os traços de uma acção efectiva de salvaguarda da cultura tradicional.
Ao longo de trinta anos realizou sucessivas missões de prospecção e recolha em todo o país, fez levantamentos sistemáticos da música tradicional, da literatura popular e observou a vida de um povo. Gravou, filmou, fotografou e registou. Desenvolveu um plano de edição fonográfica com a colaboração do compositor
Lopes-Graça, realizou filmes para a RTP, foi autor de programas radiofónicos no estrangeiro, fez conferências e exposições. A colecção da
Antologia da Música Regional Portuguesa com os seus cinco discos, o filme/documentário
Povo que Canta em trinta e sete programas para a televisão e o
Cancioneiro Popular Português editado pelo Círculo de Leitores, entre outras produções, são referências inestimáveis do seu trabalho e de um forte projecto de divulgação.
Em resultado desta sua obra imensa fundaram-se dois museus, o Museu do Trabalho em Setúbal que acolhe as colecções geradas pelas campanhas do seu programa “Trabalho e Cultura”, no âmbito do Serviço Cívico Estudantil, e o
Museu da Música Portuguesa em Cascais, que recebeu a sua colecção de instrumentos musicais portugueses, uma colecção de objectos de arte popular e a sua biblioteca especializada, entre outra documentação. Giacometti também colaborou de forma activa na definição do programa deste Museu, que por sua vez veio a receber o espólio do compositor Fernando Lopes-Graça. O Museu da Música Portuguesa, que tem como missão e objectivos a preservação, estudo e divulgação do Património Musical Português, surge, precisamente, pela história da sua constituição, deste feliz encontro do investigador Michel Giacometti com o compositor Fernando Lopes-Graça, em 1960.
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